A recente movimentação da vereadora Aladilce Souza (PCdoB) provocou um intenso debate sobre a gestão pública e a preservação dos bens históricos de Salvador, trazendo à tona a questão da possível privatização irregular do Elevador Lacerda e da Praça Thomé de Souza. Com a solicitação de investigação ao Ministério Público da Bahia, a vereadora não apenas questiona a transparência das operações da Prefeitura, mas também clama por uma participação mais ativa da população nas decisões que impactam o patrimônio cultural da cidade.
Uma análise mais profunda dessa situação revela como a administração pública deve interagir com a sociedade civil e a importância dos mecanismos de controle social na gestão de bens públicos. Este artigo busca discutir esses pontos, fornecendo um panorama abrangente sobre a ação da vereadora, as implicações legais e sociais do caso, e o papel do cidadão na construção de uma política pública mais transparente e participativa.
Vereadora aciona o MP por suspeita de privatização irregular do Elevador Lacerda e da Praça Thomé de Souza
No último mês, a vereadora Aladilce Souza fez um apelo à promotora Rita Tourinho, solicitando a abertura de uma investigação detalhada sobre a concessão do Elevador Lacerda e da Praça Thomé de Souza. Esse pedido é motivado pela introdução da Lei Municipal nº 9.604/2021, que instituiu o Plano Integrado de Concessões e Parcerias (PICS). Embora o PICS tenha uma abordagem ampla sobre a possibilidade de concessão de espaços públicos, a ausência de menção específica ao Elevador Lacerda e à Praça Thomé de Souza levanta questões pertinentes sobre a legalidade das ações da gestão municipal.
A preocupação de Aladilce se intensifica ao observar que a proposta de concessão foi aberta ao público, permitindo a exploração de eventos privados. Um exemplo disso é o projeto “Conceito Lacerda”, que está sob os cuidados da empresária Andrea Velame, relacionada a figuras proeminentes da prefeitura, como o prefeito Bruno Reis e a vice-prefeita Ana Paula Matos. Para a vereadora, esse tipo de exploração privada fere o caráter público do local e compromete a essência do uso que deve ser dado a um patrimônio tão simbólico para os soteropolitanos.
Além disso, Aladilce critica o Conselho Gestor de Parcerias (CGP), que, segundo ela, é composto apenas por representantes da administração municipal, excluindo a participação direta da sociedade civil. Tal estrutura, segundo a vereadora, viola os princípios da gestão democrática e do controle social estabelecidos no Estatuto da Cidade, um dos principais marcos legais que rege a urbanização e o uso do solo nas cidades brasileiras.
A lei e suas implicações
É fundamental entender o que a Lei Municipal nº 9.604/2021 realmente propõe. Essa legislação visa facilitar a concessão de espaços públicos, em um momento em que muitos municípios enfrentam desafios financeiros e buscam alternativas para manter seus bens públicos. Entretanto, a utilização dessa lei deve ser feita com extremo cuidado, considerando seu impacto na vida urbana e nos direitos dos cidadãos.
Ao permitir a concessão de praças e equipamentos públicos de forma genérica, a lei concede um poder considerável à administração municipal. No entanto, a falta de especificidade com relação a bens emblemáticos como o Elevador Lacerda e a Praça Thomé de Souza faz surgir dúvidas sobre a sua aplicação. O crivo social e a participação da comunidade nas decisões que envolvem a concessão de espaços assim precisam ser garantidos para que a legislação não se converta em um instrumento de privatização disfarçada.
O papel da sociedade civil
A importância da sociedade civil na supervisão da gestão pública torna-se clara nesse cenário. O movimento da vereadora Aladilce Souza é uma chamada à ação, propondo que as pessoas comuns façam parte do processo de decisão e controle. Para muitos cidadãos, a informação é a chave para o poder, e o envolvimento na governança local é essencial para garantir que os interesses públicos sejam respeitados.
Por meio de audiências públicas, reuniões comunitárias e outros mecanismos de participação, a sociedade pode e deve se fazer ouvir. Isso não apenas fortalece a democracia, mas também garante que as ações da administração sejam mais transparentes e estão em conformidade com os interesses coletivos. Vale lembrar que as práticas de gestão pública não devem ser vistas como decisões tomadas exclusivamente pela elite política, mas devem refletir os anseios e demandas da população.
Desdobramentos da ação da vereadora
As ações da vereadora Aladilce podem ter um impacto significativo na forma como a administração pública lida com a concessão de bens públicos no futuro. Com a formalização do pedido de investigação, o Ministério Público poderá tomar ações que ajudem a esclarecer a situação e garantir que a legalidade das concessões seja mantida.
Se as suspeitas de irregularidades forem confirmadas, a situação pode levar à revogação dos contratos de concessão realizados de maneira inadequada. Isso ressaltaria a importância do controle social e da fiscalização como ferramentas fundamentais na luta pela preservação dos direitos dos cidadãos sobre seus bens públicos.
Os impactos econômicos e sociais da privatização de bens públicos
A privatização de bens públicos, quando feita de forma inadequada, pode ter efeitos devastadores na economia local e na qualidade de vida dos cidadãos. Esses espaços, além de serem importantes pontos turísticos e culturais, desempenham um papel vital na socialização, na cultura e na vida urbana.
A ocupação privada de espaços públicos pode resultar em um aumento no custo do uso desses bens, limitando o acesso da população que depende desses locais para lazer e eventos culturais. No caso do Elevador Lacerda e da Praça Thomé de Souza, a privatização poderia criar barreiras de acesso, transformando lugares que deveriam ser abertos a todos em espaços exclusivos.
Perguntas Frequentes
Como o Ministério Público pode investigar a concessão desses bens?
O Ministério Público possui a autoridade para investigar situações que envolvam a irregularidade na gestão de bens públicos, especialmente quando há suspeitas de que normas legais tenham sido violadas.
Qual a importância da transparência na concessão de bens públicos?
A transparência é fundamental para garantir que as decisões tomadas pelas autoridades sejam de interesse público e que os cidadãos possam opinar e fiscalizar essas ações.
É possível reverter uma concessão irregular?
Sim, uma concessão pode ser revista ou até anulada se for provado que houve ilegalidades ou desrespeito às normas estabelecidas.
O que é o Estatuto da Cidade?
O Estatuto da Cidade é uma lei federal que estabelece diretrizes para o uso do solo urbano e para o planejamento das cidades, visando garantir a função social da propriedade e o direito à cidade.
Como os cidadãos podem participar na gestão pública?
Cidadãos podem participar através de audiências públicas, conselhos municipais, e também se mobilizando por meio de movimentos sociais e organizações não governamentais.
Quais são os riscos da privatização inadequada de bens públicos?
Os riscos incluem a exclusão da população de espaços históricos, a priorização de interesses privados em detrimento do bem público e o aumento da desigualdade social.
Considerações finais
A ação da vereadora Aladilce Souza em acionar o MP por suspeita de privatização irregular do Elevador Lacerda e da Praça Thomé de Souza demonstra a importância do controle social e da participação da sociedade na gestão pública. Esse episódio não apenas levanta questões requintadas sobre a transparência e a legalidade nas concessões de bens públicos, mas também nos convida a refletir sobre o papel que cada um de nós pode desempenhar na construção de uma cidade mais justa e acessível.
É imperativo que os cidadãos se mantenham informados, participem ativamente das discussões e exijam que suas vozes sejam ouvidas. Essa luta por transparência e participação não é apenas pela preservação de locais icônicos, mas pela garantia de que o futuro de Salvador e de suas comunidades seja construído de forma coletiva e em respeito aos direitos de todos. A preservação do Elevador Lacerda e da Praça Thomé de Souza vai muito além de um ato administrativo; trata-se de um compromisso com a história, cultura e identidade do povo soteropolitano.
