No Ato Pela Vida, COAB+ denuncia racismo na epidemia de aids e formaliza Carta Manifesto às autoridades

A relevância da denúncia racial na epidemia de HIV/Aids em Salvador

No dia 1º de dezembro, Salvador, a cidade mais negra fora do continente africano, torna-se palco de um ato significativo chamado Ato Pela Vida 2025. Organizado pela COAB+ – Coalizão Baiana dos Movimentos Sociais em HIV/Aids, esse evento não é apenas uma manifestação, mas um grito de alerta sobre um desafio alarmante que afeta a população negra: o que os ativistas chamam de “genocídio silencioso”. A mobilização visa expor a dimensão racializada da epidemia de HIV/Aids na cidade, rompendo com o silêncio oficial e exigindo atenção urgente das autoridades.

A concentração está marcada para as 14h, no acesso inferior do Elevador Lacerda, com o trajeto rumo à Secretaria Municipal de Saúde, onde será entregue a Carta Manifesto “A Aids é Negra!”. Este documento agrega dados preocupantes sobre a incidência da doença, além de demandar medidas efetivas para combater a epidemia que se abate desproporcionalmente sobre a população negra.

A epidemia tem cor

A análise da epidemia de HIV/Aids em Salvador revela uma forte disparidade racial. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), incluídos na Carta Manifesto, mostram que mais de 80% dos novos casos da doença atingem pessoas negras (pretas e pardas). Isso traduz uma proporção alarmante de 14 para 1 em relação à população branca. Essas estatísticas indicam não apenas a gravidade da situação, mas também a ineficácia das políticas públicas voltadas para os territórios mais vulneráveis.

Quando se observa a taxa de detecção de HIV em Salvador, que alcança 49,5 por 100 mil habitantes, o resultado é ainda mais dramático. Essa taxa é mais do que o dobro das médias observadas nacional e estadual. As taxas de detecção de AIDS e mortalidade também estão acima da média do país, evidenciando um quadro de descaso e abandono que afeta diretamente a saúde da população negra na cidade.

Para a COAB+, esses números são um reflexo de políticas públicas que falham em atender as necessidades da população negra e dos territórios periféricos. A ausência de ações efetivas em áreas vulneráveis e a falta de incentivos à testagem e prevenção combinada corroboram a tese de uma epidemia racializada.

A crise de Aids em Salvador: uma face do genocídio social

Ton Shübber, um ativista que vive com HIV e é coordenador da COAB+, destaca que Salvador está em meio a um cenário crítico, marcado por negligência institucional, racismo estrutural e apagamento das demandas da população negra. A maneira como o Estado tem tratado a epidemia, segundo Shübber, reflete uma visão que utiliza o HIV/Aids como uma forma de controle social, relegando direitos essenciais à saúde e à dignidade da população negra.

É fundamental que essa crise de saúde pública seja encarada como uma questão política. Ignorar as disparidades raciais na abordagem da epidemia precariza ainda mais a vida de muitos indivíduos. A necessidade de um atendimento à saúde mais justo e acessível, especialmente nas comunidades negras e periféricas, é um imperativo moral e ético.

Além disso, esse cenário afeta o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil perante o UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), comprometendo a meta global de erradicar a epidemia até 2030. Nesse sentido, a Carta Manifesto exigindo a adoção do padrão 95%–95%–95% e a implementação de políticas transparentes, eficazes e equitativas deve ser vista como uma urgente chamada à ação.

Sigilo, estigma e resistência: um chamado à participação popular

Uma das questões mais desafiadoras enfrentadas por pessoas vivendo com HIV é o estigma que envolve a doença. Muitos se veem obrigados a manter sigilo sobre seus diagnósticos, o que dificulta a participação em atos públicos e a mobilização social. Essa realidade mostra que o ato de resistência se torna ainda mais necessário, pois é através da coletividade que as vozes marginalizadas podem ser ampliadas.

A marcha programada para o Ato Pela Vida 2025, portanto, visa tornar o debate sobre HIV/Aids visível e, ao mesmo tempo, afirmar que a epidemia não pode continuar a ser um tabu. É um momento para unificar diversas lutas sociais – negra, periférica, LGBTQIA+, de saúde pública e de direitos humanos. Essa união é vital para garantir que as discussões sobre saúde e racismo permaneçam em pauta e que as ações necessárias sejam tomadas.

Serviço: O que acontece no dia 1º de dezembro

O Ato Pela Vida 2025 é uma ocasião em que todos estão convidados a se unir em prol de uma causa tão urgente. A participação da sociedade civil é fundamental para fortalecer a mensagem de que a vida de quem vive com HIV, especialmente as vidas negras, são valiosas e merecem atenção e cuidados adequados.

  • Quando: 1º de dezembro de 2025, às 14h
  • Onde: Acesso inferior do Elevador Lacerda (Comércio)
  • Trajeto: Marcha até a Secretaria Municipal de Saúde

Uma denúncia que exige resposta

A ocasião do Dia Mundial de Luta Contra a Aids deve ser mais do que um dia de recordar vítimas. Deve ser um momento de enfrentar as realidades que contribuem para a mortalidade e os diagnósticos tardios, que, infelizmente, recaem desproporcionalmente sobre a população negra. É preciso que essa denúncia seja uma chamada ao poder público, reafirmando que vidas negras que vivem com HIV importam e que têm o direito à saúde, dignidade e futuro.

Perguntas Frequentes

Como posso participar do Ato Pela Vida 2025?

Para participar, basta se juntar aos organizadores no acesso inferior do Elevador Lacerda no dia 1º de dezembro às 14h.

Qual a importância da Carta Manifesto “A Aids é Negra!”?

A carta reúne dados e exige que as autoridades adotem políticas públicas para enfrentar as disparidades raciais na saúde e no combate ao HIV/Aids.

Como posso me informar mais sobre a epidemia de HIV/Aids em Salvador?

Acompanhar as publicações da COAB+ e consultar fontes confiáveis como o Ministério da Saúde e o UNAIDS são formas de se manter bem informado.

O que a COAB+ espera do poder público?

A COAB+ espera que o governo se posicione de forma clara e que implemente políticas sociais que atendam a população negra, garantindo acesso à saúde e prevenção do HIV.

Qual o impacto do estigma na vida das pessoas vivendo com HIV?

O estigma pode levar indivíduos a se sentirem envergonhados e a se isolarem socialmente, dificultando o acesso a tratamento e o apoio comunitário.

Como a crise de Aids se relaciona com o racismo estrutural?

A crise de Aids, em Salvador, evidencia como a negligência institucional e as disparidades raciais resultam em um tratamento desigual para a população negra, reforçando a necessidade de políticas públicas mais justas.

Conclusão

O Ato Pela Vida 2025, com sua proposta de unir vozes em torno de questões críticas, é um momento não apenas de reflexão, mas de ação. Por meio da entrega da Carta Manifesto e do ato de resistência nas ruas, os movimentos sociais, liderados pela COAB+, buscam não apenas visibilidade, mas também ações concretas que promovam mudanças. A luta contra o HIV/Aids é intrinsecamente ligada à luta por justiça racial. É fundamental que a sociedade encare a epidemia com a seriedade que ela merece, responsabilizando as autoridades e clamando por um atendimento digno e igualitário. Cada voz nessa marcha tem a capacidade de ecoar uma verdade que não pode ser silenciada: a Aids é negra, e essa realidade precisa ser enfrentada coletivamente.